Em 2017, "O Livro dos Espíritos" comemora 160 anos de lançamento de sua primeira edição. Para que possamos entender um pouco do contexto no qual a obra foi lançada, é preciso recorrer, ainda que brevemente, às trajetórias das Irmãs Fox, família Baudin e Hypolite Rivail.
1. Irmãs Fox
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Figura 1: Casa da Família Fox em Hydesville, NY. |
Há alguns anos a família Fox experimentava fenômenos, tais como pancadas e arranhões, nas paredes, teto e assoalho de sua residência, situada no vilarejo de Hydesville (Nova Iorque - EUA). Até que em março de 1848, John e Margareth Fox, com suas filhas adolescentes Katherine e Margareth, começaram a interagir com o que quer fosse responsável por provocar tais fenômenos. Como era possível explicar isso? Tratava-se afinal de energia, força nervosa, magnetismo, eletricidade, ou um demônio? Havia um histórico de paranormalidade de alguns antepassados da família Fox. Durante os contatos, ao longo de alguns dias, convencionou-se utilizar o número de pancadas relacionadas diretamente com a ordem das letras do alfabeto, tornando-se mais inteligível e mais rápida a comunicação. Dessa forma, foi possível o comunicante informar que ele era o Espírito de um mascate que havia sido assassinado naquela casa por um antigo morador, há cinco anos, tendo sido o seu corpo enterrado na adega, o que foi confirmado após escavações. Passado algum tempo de contatos e investigações, as filhas adolescentes foram residir com os irmãos mais velhos. Porém, em novo ambiente, a ocorrência de fenômenos não cessou. Na época as pessoas começaram a desconfiar de que tratava-se de uma espécie de contágio. Em pouco tempo, mais e mais pessoas, de diferentes famílias e lugares, também relatavam fenômenos semelhantes , reforçando assim as hipóteses de contágio, “nuvem psíquica” ou “captação dos pensamentos presentes no ambiente”.
Muitos dos que analisaram esses fenômenos chegaram a conclusões precipitadas, preconceituosas, discriminando os médiuns e expulsando-os do convívio fraterno nos templos religiosos aos quais se dedicavam, por entenderem que tinham relações com o diabo. A maioria dessas pessoas certamente desconhecia, como ainda hoje muitos desconhecem, que aqueles acontecimentos eram fenômenos mediúnicos, manifestações que ocorrem desde a antiguidade e estão presentes inclusive na Bíblia não sendo portanto racional serem classificados como algo diabólico.
2. Família Baudin
A família Baudin, composta por Émile-Charles e Clémentine e suas filhas adolescentes Caroline e Julie, que morava na Ilha de Reunião - África, costumava fazer reuniões mediúnicas em seu lar. Essas reuniões passaram a ser dirigidas por um Espírito, chamado Zephyr, que se apresentou como guia espiritual. As mensagens eram psicografadas indiretamente tendo como médiuns a mãe e as duas filhas, utilizando-se um lápis de pedra amarrado a uma cesta de vime que era tocada por elas com as pontas dos dedos, para assim, mediante impulso mediúnico escrever sobre um quadro de ardósia. Certa noite, o Espírito previu que aquela família em breve mudaria para Paris, acrescentando: “Lá procurarei manter contato com um velho amigo e chefe, desde o nosso tempo de druídas”. No ano de 1855 a família se viu obrigada a se mudar para a capital francesa, onde as reuniões mediúnicas continuaram a acontecer.
3. Hippolyte Rivail
Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869) era professor e pedagogo, autor de vários livros voltados principalmente para a educação e tradutor de diversas obras para o alemão. Dedicava-se, ainda, à luta por uma maior democratização do ensino público e lecionava Química, Astronomia, Física, Matemática, Anatomia Comparada, Fisiologia e Francês. Em 1854 foi convidado por seu amigo Fortier, que era magnetizador e professor, a uma reunião sobre o fenômeno das mesas girantes, também conhecido como mesas falantes. Rivail, porém, pensou que se tratava de algo relacionado apenas ao magnetismo animal, fenômeno do qual era estudioso, e não deu maior atenção ao fato. No entanto, logo no ano seguinte, apresentou grande interesse investigativo após ter tomado conhecimento de que as mesas girantes davam respostas inteligentes aos questionamentos feitos nas reuniões. Diante de um assunto tão intrigante aceitou, então, o convite. A esse respeito, mais tarde o Senhor Rivail declarou: “Eu me encontrava, pois, no ciclo de um fato inexplicado, contrário, na aparência, às leis da natureza e que minha razão repelia. Nada tinha ainda visto nem observado; sabia apenas que as experiências eram feitas em presença de pessoas honradas e dignas de fé. Pensava na possibilidade de um efeito puramente material; a ideia, de uma mesa falante, não me entrava ainda no cérebro”.
Numa noite, pela primeira vez o professor Rivail e sua esposa, Amélie Gabrielle Boudet Rivail, participaram de uma reunião na casa da família Baudin, na qual foram recebidos amistosamente por Zephyr. O Espírito revelou que Rivail havia sido um chefe druídico, cujo nome era Allan Kardec. A partir daí, o professor Rivail passou a frequentar regularmente as reuniões naquele grupo, anotando suas observações e adotando critérios de estudo e investigação muito próprios e diferentes dos utilizados por tantos outros pesquisadores. Suas perguntas eram preparadas antes das reuniões e mediante as respostas que os Espíritos davam às questões por ele formuladas e enviadas para variados grupos e médiuns, compilava tais informações para serem publicadas num livro, que inicialmente seria denominado “Religião dos Espíritos”. Temendo a censura, especialmente por causa do primeiro termo no título do livro, mas também para que o leitor identificasse na obra um livro escrito pelos Espíritos, modificou o título para “O Livro dos Espíritos”, ao mesmo tempo em que adotou o pseudônimo de Allan Kardec para indicar o compilador da obra. Este pseudônimo evitava que os leitores atribuíssem a sua autoria ao acadêmico Rivail, que já tinha publicado vários trabalhos escritos por ele mesmo. Na manhã do dia 18 de abril de l857 foi publicada a primeira edição do livro contendo os Princípios da Doutrina Espírita, contendo 501 perguntas formuladas por Allan Kardec e as respostas oferecidas pelos Espíritos. À noite, o Codificador do Espiritismo reuniu em sua residência um pequeno grupo de amigos frequentadores das reuniões que eram realizadas no lar da família Baudin, para comemorar o lançamento do livro. Dentre eles estava a médium Ermance Dufaux (14 anos), que ainda não conhecia o professor Rivail, mas que já havia psicografado e publicado em 1854 o livro “A História de Luis IX ditada por ele mesmo” (São Luis), e em 1855 o livro “Spiritualiste”. A partir dessa noite, Ermance Dufaux passou a frequentar as reuniões dirigidas por Allan Kardec e colaborou intensamente nos trabalhos mediúnicos para a publicação da segunda edição desse livro, em 16 de março de 1860, que foi ampliado para 1.018 perguntas e respostas dos Espíritos. Ermance também colaborou nos trabalhos mediúnicos para a publicação de outras obras do pentateuco Kardequiano, quais sejam: O Livro dos Médiuns (1861); O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864); O Céu e o Inferno (1865); A Gênese (1868). Allan Kardec publicou, ainda, o livro O que é o Espiritismo (1859) e o periódico mensal Revista Espírita (janeiro de 1858 a 1869).
Nota: Em
1861, 300 livros espíritas, incluindo "O Livro dos Espíritos", por
ordem do Bispo da Igreja Católica na cidade de Barcelona - Espanha, foram
confiscados e queimados em praça pública, para impedir que a população tivesse
acesso àquela literatura. Esta providência serviu para despertar ainda mais a
curiosidade e o interesse do público pelas obras espíritas, contribuindo assim
para sua maior divulgação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1) https://www.autoresespiritasclassicos.com;
2) https://pt.wikipedia.org./wiki/Irmãs_Fox;
3) Livro dos Médiuns, primeira parte, capítulo IV - SISTEMAS.
Allan Kardec;
4) Livro: Mediunidade. Psicografia de Edgard Armond –
Espíritos diversos;
5) Livro: O Livro dos Espíritos e Sua Tradição Histórica e
Lendária. Silvino Canuto Abreu – Editora LFU;
6) https: //pt.wikipedia.org/wiki/Allan_Kardec;
7)Livro: História do Espiritismo. Sir Arthur Conan Doyle;
8) http://www.vinhadeluz.com.br/site/noticia.php?id=717