O primeiro Aprendizes de Jesus, encontro realizado na Caravana do Amor
na época do carnaval, aconteceu em 2011 e teve como tema “Integração: Um por todos e todos por
um”. Na época, os participantes da oficina de teatro produziram uma peça a partir de fantoche de mãos. O objetivo foi trazer valores da Doutrina Espírita através da arte de forma lúdica. No contexto da quarentena, rever essa gravação – disponível abaixo – é um convite à reflexão.
A peça inicia com a difícil chegada de uma caixa muito pesada. A mãozinha que recebe essa
entrega especial pede ajuda ao entregador para levá-la até a casa de seu irmão, mas
seu pedido não foi atendido. Depois de ter
seu pedido de auxílio ignorado por outra personagem, a
mãozinha finalmente foi ajudada. Tudo foi resolvido quando
uma mão muito solícita viu o problema que havia ali e chamou seus amigos para
tentarem, todos juntos, carregar a tal entrega especial. Ao chegar no seu destino final
e abrir a caixa, os personagens só encontraram bons sentimentos. Ao analisarmos essa história, podemos concluir que ela quis nos mostrar que quando há a
solidariedade e a tarefa é compartilhada, a carga é muito menor para todos os
apoiadores daquela causa.
No Livro dos Espíritos, capítulo VII da 3ª parte – Lei de Sociedade” –, Kardec
comenta que: “Nenhum homem dispõe de faculdades completas e é pela união social
que eles se completam uns aos outros, para assegurar seu próprio bem-estar e
progredir. Eis por que, tendo necessidade uns dos outros, são feitos para viver
em sociedade e não isolados.”[1] Por meio dessa forte afirmação acerca do objetivo da vida em conjunto,
podemos perceber, por consequência, a necessidade de desenvolvermos a solidariedade
como um valor vívido em nosso ser, representado em nossas ações, e que
atua sobre a visão de mundo que temos das situações ao nosso redor.
É bastante
comum associarmos a solidariedade a uma ajuda pontual e eventual dada a algum
irmão de caminhada que está passando por uma situação adversa em sua vida. Contudo, é necessário pensarmos a solidariedade em termos estruturais, e não em ocasiões específicas e isoladas. Em 2014, num discurso proferido no I Encontro
Mundial dos Movimentos Populares,
o Papa Francisco enfatizou a ideia de uma noção solidária abrangente e não
situacional: “Solidariedade (...) é muito mais do que alguns gestos de generosidade
esporádicos. É pensar e agir em termos de comunidade, de prioridade da vida de
todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns. É também lutar contra
as causas estruturais da pobreza, da desigualdade, da falta de trabalho, da
terra e da casa, da negação dos direitos sociais e laborais."[2]
As duas citações anteriores nos mostram que a
solidariedade não é apenas um valor cristão ou espírita, é acima de tudo uma
premissa que todos devem carregar no seu íntimo. É um fato que
em momentos complicados como o que estamos vivenciando – a previsão do Brasil como novo epicentro da pandemia que assola o mundo – , as oportunidades de praticar a solidariedade tornam-se mais evidentes. Também por conta dessa experiência, devemos exercê-la,sem esquecermos que um auxílio num momento de urgência, por mais importante que seja, sozinho é pequeno diante da solidariedade tomada como movimento global, coletivo.
De forma a tentar deixar um pouco mais concreto o nosso
dever como cristãos e solidários, recorremos ao exemplo de Jesus, propondo uma última reflexão em
cima das palavras do Papa Francisco ditas no dia 29 de julho de 2016. Ao fazer referência a uma passagem evangélica, ele nos lembra: “Somos
chamados a servir Jesus crucificado em cada pessoa marginalizada, a tocar a sua
carne bendita em quem é excluído, tem fome, tem sede, está nu, preso, doente,
desempregado, é perseguido, refugiado, migrante. Naquela carne bendita,
encontramos o nosso Deus; naquela carne bendita, tocamos o Senhor. O próprio Jesus no-lo disse, ao explicar o
“Protocolo” com base no qual seremos julgados: sempre que fizermos isto a um
dos nossos irmãos mais pequeninos, fazemo-lo a Ele.” (cf. Mt 25, 31-46)[3]
[2] Trecho disponível em: http://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2016/july/documents/papa-francesco_20160729_polonia-via-crucis.html
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