9 de junho de 2020

Solidariedade

O primeiro Aprendizes de Jesus, encontro realizado na Caravana do Amor na época do carnaval, aconteceu em 2011 e teve como tema “Integração:  Um por todos e todos por um”. Na época, os participantes da oficina de teatro produziram uma peça a partir de fantoche de mãos. O objetivo foi trazer valores da Doutrina Espírita através da arte de forma lúdica. No contexto da quarentena, rever essa gravação – disponível abaixo –  é um convite à reflexão. 


A peça  inicia com a difícil chegada de uma caixa muito pesada. A mãozinha que recebe essa entrega especial pede ajuda ao entregador para levá-la até a casa de seu irmão, mas seu pedido não foi atendido. Depois de ter seu pedido de auxílio ignorado por outra personagem, a mãozinha finalmente foi ajudada. Tudo foi resolvido quando uma mão muito solícita viu o problema que havia ali e chamou seus amigos para tentarem, todos juntos, carregar a tal entrega especial. Ao chegar no seu destino final e abrir a caixa, os personagens só encontraram bons sentimentos. Ao analisarmos essa história, podemos concluir que ela  quis nos mostrar que quando há a solidariedade e a tarefa é compartilhada, a carga é muito menor para todos os apoiadores daquela causa.

No Livro dos Espíritos, capítulo VII da 3ª parte – Lei de Sociedade” –, Kardec comenta que: “Nenhum homem dispõe de faculdades completas e é pela união social que eles se completam uns aos outros, para assegurar seu próprio bem-estar e progredir. Eis por que, tendo necessidade uns dos outros, são feitos para viver em sociedade e não isolados.”[1] Por meio dessa forte afirmação acerca do objetivo da vida em conjunto, podemos perceber, por consequência, a  necessidade de desenvolvermos a solidariedade como um valor vívido em nosso ser, representado em nossas ações, e que atua sobre a visão de mundo que temos das situações ao nosso redor. 

É bastante comum associarmos a solidariedade a uma ajuda pontual e eventual dada a algum irmão de caminhada que está passando por uma situação adversa em sua vida. Contudo, é necessário pensarmos a solidariedade em termos estruturais, e não em ocasiões específicas e isoladas. Em 2014, num discurso proferido  no I Encontro Mundial dos Movimentos Populares, o Papa Francisco enfatizou a ideia de uma noção solidária abrangente e não situacional: “Solidariedade (...) é muito mais do que alguns gestos de generosidade esporádicos. É pensar e agir em termos de comunidade, de prioridade da vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns. É também lutar contra as causas estruturais da pobreza, da desigualdade, da falta de trabalho, da terra e da casa, da negação dos direitos sociais e laborais."[2]

As duas citações anteriores nos mostram que a solidariedade não é apenas um valor cristão ou espírita, é acima de tudo uma premissa que todos  devem carregar no seu íntimo. É um fato que em momentos complicados como o que estamos vivenciando – a previsão do Brasil como novo epicentro da pandemia que assola o mundo – , as oportunidades de praticar a solidariedade tornam-se mais evidentes. Também por conta dessa experiência, devemos exercê-la,sem esquecermos que um auxílio num momento de urgência, por mais importante que seja, sozinho é pequeno diante da solidariedade tomada como movimento global, coletivo. 

De forma a  tentar deixar um pouco mais concreto o nosso dever como cristãos e solidários, recorremos ao exemplo de Jesus, propondo uma última reflexão em cima das palavras do Papa Francisco ditas no dia 29 de julho de 2016. Ao fazer referência a uma passagem evangélica, ele nos lembra: “Somos chamados a servir Jesus crucificado em cada pessoa marginalizada, a tocar a sua carne bendita em quem é excluído, tem fome, tem sede, está nu, preso, doente, desempregado, é perseguido, refugiado, migrante. Naquela carne bendita, encontramos o nosso Deus; naquela carne bendita, tocamos o Senhor. O próprio Jesus no-lo disse, ao explicar o “Protocolo” com base no qual seremos julgados: sempre que fizermos isto a um dos nossos irmãos mais pequeninos, fazemo-lo a Ele.” (cf. Mt 25, 31-46)[3]


[1] KARDEC, ALLAN. Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB – 74ª edição, p. 359. 
[2] Trecho disponível em: http://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2014/october/documents/papa-francesco_20141028_incontro-mondiale-movimenti-popolari.html
[2]  Trecho disponível em: http://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2016/july/documents/papa-francesco_20160729_polonia-via-crucis.html

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