No dia 16 de agosto de 1886
havia cerca de duas mil pessoas no salão de honra da Guarda Velha, participando
de um ciclo de conferências organizado pela Federação Espírita Brasileira. Elas
assistiram emocionadas e atônitas à conferência
do homem que era o médico (alopata) dos pobres há trinta anos, foi eminente
político de 1860 a 1885, e também desempenhava destacada função de jornalista,
Dr. Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti.[1] Amigo de todos os
diretores da Federação, ele anunciava ali, em alto e bom som, a sua adesão ao
Espiritismo.
Grande foi a repercussão
provocada em toda a cidade do Rio de Janeiro e até mesmo em outros estados,
pois o público, até então, desconhecia que aquele ilustre cidadão cearense já
estudava a Doutrina dos Espíritos desde 1876, aproximadamente, quando recebeu
das mãos do Dr. Joaquim Carlos Travassos –primeiro a empreender a tradução das
obras de Kardec no Brasil e Secretário-Geral do Grupo Confucius– como presente,
um exemplar de O Livro dos Espíritos, com dedicatória.
Entre os diversos subgrupos[2] espíritas da época houve
grande contentamento com os resultados e consequências daquela conferência,
pois as livrarias venderam mais livros espíritas, a Federação cresceu em
adesões de Grupos Espíritas, os círculos do catolicismo agitaram-se e alguns
fizeram ataques por cartas ou através de artigos publicados na imprensa ao
homem e à Doutrina Espírita. Com muita sabedoria, conhecimento doutrinário,
teológico, filosófico e possuidor de verbo fácil, o Dr. Bezerra de Menezes
escrevia seus comentários e replicava com lúcidos e indiscutíveis argumentos,
em cartas ou também através da imprensa, as agressões que recebia ou que eram
dirigidas ao Espiritismo.
Em face disso, foi convidado
pela União Espírita do Brasil a escrever, para ser publicada no jornal de maior
circulação da época, O Paiz
(dirigido por Quintino Bocaiuva, que pouco depois se tornou espírita), a série
de “Estudos Filosóficos”, cujo título era “Espiritismo”. No período de novembro
de 1886 a dezembro de 1893, sob o pseudônimo de Max, seus artigos foram
publicados ininterruptamente, aos domingos, marcando assim a melhor época da
divulgação do Espiritismo no Brasil. Estes artigos foram, mais tarde, reunidos
em três volumes e publicados em formato de livros. Nesta mesma época, ele
escreveu o romance “A Casa Mal Assombrada” e ainda “Lázaro, o leproso”.
Simultaneamente à essa volumosa produção intelectual, num intervalo de um ano e
meio, Bezerra enfrentou a perda de três de seus filhos.
Em abril de 1889, Bezerra de
Menezes assumiu a presidência da FEB, onde instalou o primeiro “curso de
desenvolvimento da mediunidade” no país. Levava consigo o objetivo de conseguir
reunir os espíritas brasileiros em torno da Doutrina dos Espíritos, praticando
a fraternidade ensinada no Evangelho, sob o lema da Bandeira de Ismael: Deus,
Cristo e Caridade. Entretanto, os espíritas de então pareciam refratários aos
apelos que lhes foram dirigidos por Allan Kardec e Ismael, através das
mensagens por eles enviadas. Pouco tempo depois deixou o cargo, passando a
exercer o de vice presidente em 1890 e 1891, ocasião em que vários grupos
reduziram ou encerraram suas atividades por causa das incursões e perseguições
arbitrárias promovidas pela polícia nos mais variados setores da sociedade, em
busca de possíveis elementos contrários à República recém instalada no Brasil.
Após esse tempo se afastou da FEB, mas não interrompeu suas atividades costumeiras
no Espiritismo, assim como, jamais deixou de exercer algum trabalho
profissional.
Em 1895 Dr. Bezerra de Menezes
foi convidado a reassumir a presidência da FEB, pois grande era a dispersão dos
elementos no movimento espírita. Inicialmente recusou o convite por diversas
razões, mas lhe foi oferecida autonomia total para dirigir os destinos da
instituição e, embora tenha ficado sensibilizado com o convite, preferiu ouvir
o seu Mentor Espiritual antes de dar uma resposta definitiva. Assim, em reunião
mediúnica no Grupo Ismael (que ele frequentava regularmente), em julho daquele
ano, na qual também estava presente Bittencourt Sampaio, que ponderou
favoravelmente a aceitação do convite pelo médico dos pobres, foi ouvido o Espírito
Agostinho, através do médium Frederico Júnior, falando da necessidade e
urgência de se aceitar aquele convite, pois que, era um chamado e que a união
dos espíritas e a sua orientação haviam sido confiadas pela espiritualidade a
ele, Bezerra de Menezes. Dessa forma, sob as bênçãos de nosso Senhor Jesus
Cristo e o concurso imediato dos Espíritos mensageiros da luz, ele aceitou a
convocação e exerceu novamente o cargo de presidente da FEB, de agosto de 1895
a abril de 1900, quando desencarnou.
Referências Bibliográficas:
ABREU, Silvino Canuto de. Bezerra de Menezes: Subsídios para a História do Espiritismo no
Brasil desde o ano de 1895. Editora: FEESP. Obra disponível em
Adolfo Bezerra de Menezes:
Apontamentos bibliográficos. Texto produzido para coletânea da FEB. Disponível
em: https://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/06/Adolfo-Bezerra-de-Menezes.pdf
Presidentes da FEB. Revista Reformador,
abril de 2014. Disponível em: https://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2014/05/presidentes-da-feb-1.pdf
[1] Ao concluir o curso de medicina,
Bezerra ingressou na vida militar como cirurgião-tenente, nela permanecendo por
quatro anos. Foi católico fervoroso e profundo conhecedor da Bíblia. Na
juventude teve dúvidas sobre a religião que conheceu desde criança e se tornou
cético, mas passou a estudar profundamente o Livro Sagrado dos cristãos quando,
após cinco anos do seu primeiro matrimônio se tornou viúvo, em 1863.
[2] a) Os
“científicos” - os que compartilhavam somente do aspecto
científico da Doutrina Espírita. Tinham maior interesse somente nos fenômenos
mediúnicos.
b) Os “místicos” - os
que encaravam o Espiritismo como religião.
c) Os “espíritas puros” - os
que aceitavam apenas O Livro dos Espíritos e o Livro dos Médiuns como expressão
da Doutrina dos Espíritos. d) Os “kardecistas” - eram
os que adotavam todos os livros da codificação espírita.
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